CAPOEIRA - PEQUENO HISTORICO

A CHEGADA DOS NEGROS AO BRASIL.

Com o inicio do trafego negreiro para o Brasil, e durante todo o processo de formação de nosso país, tivemos uma influência direta da cultura dos povos oriundos da África. Os negros que vinham como escravos, eram muitos deles Reis e Rainhas que a partir dali serviriam apenas como Mão de obra escrava na construção do nosso país. Eram trazidos principalmente de reinos que tivessem o domínio de certas técnicas agrícolas, o que facilitaria a introdução destes povos, no sistema escravista da colônia.

Ao chegarem ao Brasil, por volta da primeira metade do século XVI, devido pertencerem a varias etnias diferentes, os negros enfrentaram grandes dificuldades em organizar-se para lutar contra o processo de escravidão, dificuldade esta dada principalmente na comunicação, por falarem em vários dialetos diferentes.

Devido a violência que o povo negro sofre no trajeto África – Brasil , nas chamadas “tumbas flutuantes”, (nome dado aos navios negreiros) e nos primeiros engenhos e fazendas de cana-de-açúcar, as dificuldades inicias de comunicação começam a serem solucionadas, principalmente com o aparecimento dos primeiros “quilombos”. Quilombos onde os negros “re-aprendem” a viver em comunidades e a respeitar-se apesar das diferenças e de pertencerem a povos diferentes: Angolas, Benguelas, Moçambique e Congo entre outros.


Com a união destes povos e toda sua cultura e em meio a todo um contexto de fugas e revoltas nas senzalas (local onde os negros eram aprisionados nas fazendas), eis que surge a capoeira, luta disfarçada de dança com suas origens na musicalidade trazida da África.

Na década de 1960, Vicente Joaquim Ferreira Pastinha, mestre em capoeira angola, recebeu a visita do pintor angolano Albano Neves, que afirma ter visto no sul da Angola uma dança de meninos, durante o ritual de puberdade das meninas, muito semelhante capoeira. O n’golo é marcado por palmas e praticado dentro de um espaço demarcado; vencia quem acertasse com o pé o rosto do adversário, o premio era o direito a escolher uma das meninas da aldeia. (Revista os negros, p.8, 2009).

A prática da capoeira acontecia sempre próxima as senzalas, e suas finalidades era a lembrança da cultura africana, o alivio da dor do chicote do feitor e a manutenção da saúde física. Na maioria das vezes as lutas ocorriam em áreas pouco desmatadas, onde os negros treinavam seus golpes, que os indígenas chamavam “Capue'Ra” , provavelmente daí a origem do nome.


DA CRIAÇÃO A RENOVAÇÃO.


Os senhores de engenho proíbem os escravos de praticarem qualquer tipo de luta. Logo os escravos encontraram maneiras de disfarçarem a luta com o ritmo e os movimentos de suas danças. O surgimento desta arte marcial disfarçada de dança, que esteve sempre atrelado ao processo histórico de resistência negra, tornou-se ao longo dos séculos um dos principais instrumentos e um dos mais Utilizados como resistência cultural e física dos escravos no Brasil.


A partir dos séculos XVII e XVIII, os senhores de escravos percebem o poder destruidor que a capoeira detém e iniciam uma caçada por capoeiras (nome dado a quem pratica capoeira). Varias leis foram criadas, principalmente durante o século XIX, na tentativa de coibir sua prática. O primeiro registro proibitivo para a capoeira é citado como de 1826 pelo então intendente do Rio de Janeiro, que punia com cem (100) açoites ou chibatadas os escravos que ousassem “dançar” a capoeira à época.

Na Bahia, no principio do século XIX, foi o campo das grandes revoltas envolvendo capoeiristas. No período em que a família real esta no Brasil, a Bahia vive um intenso turbilhão de revoltas, são mais de trinta no período entre 1808 e meados da década de 1830.

1988 ano em que é assinada a lei Áurea em treze de maio deste ano, porém mais importante que este dia foram os que vieram a seguir. Com a dita lei uma nação foi lançada as cidades sem empregos e deixados a margem da sociedade. Muitos ex-escravos passaram a sobreviver das apresentações de capoeira feitas ao público em locais como feiras livres, comércio, zona portuária, ou seja, sempre locais de grande circulação de pessoas, o que facilitaria também pequenos furtos.

Começa assim a formar-se, no Rio de Janeiro, o que posteriormente seria chamado “maltas de capoeira”. As maltas de capoeira eram grupos de capoeira, muitas vezes rivais, que surgem ao final do século XIX, que se identificavam pelo modo de andar, por vestimentas, mas principalmente por sua valentia. Os grupos citados como os principais eram os Nagoas e Guaiamus.

“...a rivalidade entre os grupos de capoeiras, também chamados de maltas, como os Nagoas e os Guaiamus no Rio de Janeiro...” (Albuquerque 2006 p. 246)

O confronto entre as maltas de capoeira no Rio de Janeiro eram comuns naquela época e juntamente com a proclamação da república em 1889, vem o mais duro golpe da na capoeira. Em 1890 foi criado o decreto 847, artigo 402 e que tinha como titulo, “dos vadios e capoeiras”, tendo como objetivo o extermínio da prática da capoeira e a prisão dos seus participantes.

“decreto 847 de 11 de outubro de1890, dos vadios e capoeira... Artigo 402- fazer nas ruas ou praças públicas exercício de destreza corporal concebidos pela denominação capoeiragem: pena de dois a seis messes de reclusão... Parágrafo único- é considerado circunstância agravante pertencer, o capoeira a algum bando ou malta.” (in. WWW.capoeiratorino.com 17/08/2009).

Na virada do século XIX para o século XX com a capoeira criminalizada, são vários os relatos de revoltas envolvendo capoeiras no Rio de Janeiro, na Bahia, em Pernambuco e no Pará. A perseguição para com a capoeira é dada pelo fato de inúmeros bandos de capoeiras defenderem o regime monárquico, por acreditarem existir um divida de gratidão com o governo da Princesa Isabel.

Porém, a partir da década de 1920, com o aparecimento de dois grandes mestres de capoeira, Vicente Joaquim Ferreira Pastinha  "Mestre pastinha" e Manuel dos Reis Machado "Mestre Bimba", a capoeira toma outra dimensão no cenário nacional.

Mestre Pastinha difundiu o estilo de capoeira Angola, que relatava ter aprendido com um africano chamado Benedito no período que esteve na marinha, além de outros feitos o mestre Pastinha fez parte da comitiva que representaria o Brasil no primeiro Festival Mundial de Arte Negra, que ocorreu em Dakar no Senegal.

Com mestre Bimba a capoeira ganha uma maior notoriedade, principalmente com a criação da “capoeira regional”, esse fato é dado como o principal fator para o reconhecimento da capoeira, o viria a acontecer em 1933, como esta relatada em uma historia do negro no Brasil.

“Em 1933, veio o reconhecimento oficial como prática desportiva e a sua inclusão entre as práticas do pugilismo, tal qual o boxe e o jiu-jítsu. Estava em curso o processo de descriminalização da capoeira, que foi conquistado a condições de luta genuinamente brasileira.” (Albuquerque 2006 p. 248)

CAPOEIRA: DO APARECIMENTO A MULTIPLICAÇÃO EM SERRINHA

A capoeira chega à cidade de Serrinha a partir da década de setenta, quando o hoje mestre Gival, na época apenas um jovem do interior maravilhado com a beleza da capoeira vista no mercado modelo da capital Salvador, se engajou no desejo de trazer aquela expressão da vida para sua cidade.

De acordo com Mestre Gival, em um relato informal em setembro de 2009, ele começou vendo os passos, os golpes, os movimentos em si que os capoeiristas da capital faziam na roda de capoeira (com muita maestria segundo ele), tentando reproduzi-los sem muita ginga; aos poucos o espectador desajeitado se transformou em mestre e referência para a capoeira da região sisaleira.


As primeiras aulas de capoeira começaram sem muito espaço numa garagem no bairro da estação, próximo ao clube ACS, localizado na porção noroeste da cidade de Serrinha, com o passar do tempo e o aumento da quantidade de alunos a capoeira de Gival ganhou fama entre as baixas classes sociais de Serrinha e passou a ser vista como um meio de transformação social. Social não no sentido econômico, o de mudar de classe, até porque a capoeira era e ainda é marginalizada no Brasil, na Bahia e em Serrinha, mas social no sentido de oferecer ao menino pobre o conhecimento de sua história: a exclusão do negro desde a escravidão até os dias atuais; a beleza e a importância do samba de roda, como lavador de tristezas, para a resistência negra; a também importância do candomblé, como culto religioso, para a não desintegração da cultura negra como um todo (apesar do mestre Gival ter se convertido ao protestantismo).


Como grande responsável pelo reconhecimento do grupo de capoeira Kilombo dos Palmares como transformador social aparece o fator disciplinar e moral que a capoeira ensinava e ensina a seus alunos: desde o respeito à hierarquia, até ao assumir uma postura pacifica; e principalmente ao valorizar a vida usando a energia e força do seu corpo para embelezar um encontro entre amigos numa roda de capoeira, e não para colocar a prova naquela roda quem é o melhor capoeirista, pois dessa maneira não seria uma roda de capoeira e sim um ringe onde brutamontes lutavam, e não jogavam capoeira.

Com a fama, a capoeira despertou a curiosidade das pessoas que chegavam ate jogar dinheiro, para que durante o jogo os capoeiristas fazendo uma disputa entre eles, tentado pegar o dinheiro com a boca. Assim a capoeira ganha novos espaços chegando a ser ensinada no salão da igreja católica, e em dias de festas nas comunidades eles eram convidados para fazerem apresentações.


É quase impossível encontrar Bairros na cidade e também na zona rural que o mestre Gival não tenha dado aulas de capoeira, e por ser muito solicitado ele também enviava seus alunos mais competentes. Espalhou-se por escolas, casas em toda parte do município.

"Mesmo que não permaneçam fazendo uma estimativa a cada dez garotos seis já praticou capoeira, os que saem, é porque a capoeira exigi muito esforço físico e muita determinação". (Entrevista com Mestre Gival em setembro de 1999).

Com o reconhecimento do grupo de capoeira Kilombo dos Palmares, o considerável aumento de alunos, entre os quais os mais graduados começaram discordar da hierarquia existente dentro do grupo; e por outras questões internas deu-se inicio o processo de multiplicação de grupos de capoeira na cidade de Serrinha.

Esses novos grupos de capoeira tinham e tem como mestres, contramestres ou professores, ou seja, como sujeitos de posição mais alta na ordem hierárquica, ex-alunos do mestre Gival (pioneiro em Serrinha). Pela vontade de montar seus grupos de capoeira, seja por interesses quaisquer, ou descontentamentos com o andamento do Kilombo dos Palmares, os antigos alunos do mestre Gival, atuais mestres, contra mestres e professores deram forma a novos grupos de capoeira de Serrinha.

No final da década de noventa formou-se o um novo grupo de capoeira em Serrinha, o ACEM – Associação de Capoeira Esquiva Menino, localizado no bairro da URBIS e liderado pelo mestre Caco; em seguida formaram-se o Grupo de Capoeira Passos da Vida, liderado pelo mestre Lins e situado no bairro da Santa; o Grupo de Capoeira Liberdade Negra, localizado no bairro de Vila de Fátima e liderado pelo contramestre Temedo; o Grupo de Capoeira Martelo Cruzado, sediado atualmente na cidade vizinha Lamarão e liderado pelo professor Miraldo, também conhecido como Martelo; o Grupo de Capoeira Shalon, liderado pelo professor Nilson, chamado de Curi; o Grupo de Capoeira Netos de Ouro, conduzido pelo professor Pelourinho; e o Centro Desportivo de Capoeira Lendário de Palmares, que tem como professor e representante Junior.

Assim como o professor Miraldo, que saiu do grupo Passos da Vida; os mestres Caco, Lins, o contramestre Temedo, o professor Nilson, o professor Pelourinho e o professor Junior, entre outros, ou foram alunos do mestre Gival e iniciaram sua jornada na capoeira no grupo Kilombo dos Palmares, ou são descendentes deste mestre e de seu grupo.

Portanto, a Capoeira que é reconhecida mundialmente como um dos mais fascinantes elementos da Cultura Afro-Brasileira, pode e deve funcionar como instrumento auxiliar do Processo de Inclusão Social, desde que se resguarde dos previsíveis riscos de deturpação ou de alienação cultural e social. No Brasil, para começar, deve servir para divulgar, também, outras manifestações culturais, afinadas com a Capoeira, estado por estado, e, em alguns casos, município por município. Como patrimônio cultural do mundo, no exterior, especialmente na África, a Capoeira deverá, também, ser enriquecida por manifestações locais que com ela se afinem.


Com todo esse desenvolvimento, a sociedade ainda desconhece os verdadeiros valores e as contribuições que podem advir do conhecimento e prática da Capoeira.


Em Serrinha a capoeira tem enfrentado inúmeros problemas devido a criação de novos grupos que ignora a essência desse movimento, além de haver uma disputa entre esses grupos pra determinar qual grupo é o melhor.


O mestre Gival é a referência da capoeira não só pra Serrinha, bem como pra cidades circunvizinhas, devido sua importância no processo de implantação da capoeira em Serrinha que por sua vez influenciou a criação de grupos de capoeira nas cidades vizinhas.





REFERÊNCIA

AMORA, Antonio Soares. Minidicionário de língua portuguesa. 5º ed. São Paulo: Saraiva, 1999.

CARLOS, Ana Fani Alessandri; LEMOS, Amália Inês Geraises. Dilemas urbanos: novas abordagens sobre a cidade. 2º Ed. São Paulo: Contexto, 2005.
FILHO, Valter Fraga . Uma história do negro no Brasil: centro de estudos afro orientais. Brasília: fundação cultural palmares, 2006.

SODRÉ, Nelson Werneck. Síntese de história da cultura brasileira. 17º ed. Rio de Janeiro: Civilização brasileira S. A., 1994.

OS NEGROS: Caros Amigos: ed. Um, n.1, 2009.

Disponível em: HTTP://www.capoeiratorino.com.it Acesso em 20 ago. 2009.



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